sábado, 2 de maio de 2009

Serviço porco

CLÓVIS ROSSI

Jack e a gripe suína
SÃO PAULO - Um estraga-prazeres chamado Andrew Cook, historiador britânico, está dinamitando a lenda de Jack, o Estripador. Diz que não passou de uma invenção para vender mais jornais. É o que relata o "Times" de ontem, com base no livro "Jack, o Estripador: Caso Encerrado". Nele, Cook afirma taxativamente que Jack é um personagem de ficção inventado pelos jornalistas e que os crimes no East End londrino, em 1888, foram obra de diferentes homens, sem nenhuma ligação entre eles.
O foco principal do livro é o jornal "The Star", lançado pouco antes de os assassinatos começarem e que foi o primeiro a sugerir um "serial killer". Coincidência ou não, o "Star" viu sua circulação aumentar em 232 mil exemplares durante o período em que noticiou à exaustão os crimes atribuídos a Jack.
Sou obrigado a confessar que, ao ler a história do "Times", não consegui deixar de pensar no mais recente "serial killer" a frequentar a mídia, a tal de gripe suína, agora rebatizada para H1N1. Com uma ressalva essencial: jornais como esta Folha dependem quase nada de venda avulsa, ao contrário de tabloides. Mas um sucessor do "Star", o tabloide "The Sun", vazou ontem relatório (de setembro) do Departamento de Saúde britânico prevendo que, na eventualidade de uma pandemia, 750 mil pessoas morreriam (só no Reino Unido) e 1,2 milhão seria hospitalizado, levando ao colapso "total ou parcial" da infraestrutura de saúde.
Quando se sabe que até ontem apenas dez pessoas haviam morrido -e no mundo todo-, é inevitável o paralelismo entre um "serial killer" que não existia e um que parece estar sendo exagerado. Pergunta também inevitável: quantas pessoas morrem, no mundo, de gripe comum no mesmo período em que morreram as dez vítimas da H1N1?

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